quarta-feira, 1 de maio de 2024

55. Antígua e Barbuda - Jamaica Kincaid



55
. Antígua  e Barbuda, Jamaica Kincaid, Annie John, abril de 2024

Este livro chegou há pouco às bancas e li-o numa viagem de avião. Cerca de 120 páginas que nos contam a história autobiográfica da personagem que dá título ao texto. De rápida e fácil leitura, seguimos a vida de Annie, filha única muito amada e que muito ama os pais, especialmente a mãe. No entanto,  com a adolescência vem a mudança de afetos, o que a transforma. Também a escola, as brincadeiras e diabruras mudam, com as dificuldades do crescimento. 

Transmite alguma informação sobre viver nestas ilhas e sobre alguns aspetos pós-coloniais de Antígua. Fala sobre vivências femininas, numa casa em que a mãe é claramente o elemento chave; fala de como esta fugiu de casa dos pais e de como foi a sua vida familiar antes de Annie nascer. Fala de mulheres que executam práticas ancestrais ligadas ao espiritismo tradicional, mas também da religião dos colonizadores. 

É um livro sobre aprendizagem e crescimento, como tantos que já li. Gostei, mas queria saber mais sobre Annie... 

A autora nasceu em 25 de maio de 1949 em Saint John, Antígua e Barbuda. Leciona literatura africana e afro-americana em Harvard, vivendo em Vermont. Tem bastantes obras publicadas, mas apenas mais uma traduzida em português, Lucy.



sábado, 13 de janeiro de 2024

48. Senegal, Mariama Bâ, Une si longue lettre, maio de 2022

Senegal, Mariama Bâ,


Une si longue lettre
, lido em maio de 2022

Mariama Bâ (1929 – 1981) foi uma autora e feminista senegalesa, que escreveu em francês, que foi a língua em que li o seu livro, facilmente adquirido na Amazon. Nasceu em Dacar e foi educada como muçulmana, mas cedo começou a criticar a forma de tratamento dada aos dois sexos, fruto das tradições africanas. Criada pelos avós, devido a morte prematura da mãe, teve de lutar pelo direito à educação porque não acreditavam que as raparigas devessem ser escolarizadas. Tornou-se professora e foi ativista pelos direitos das mulheres. Ensinou 12 anos, mas deixou o ensino por motivos de saúde para um lugar na Inspeção da Educação. Casou três vezes, a última com um membro do Parlamento, mas divorciou-se novamente e ficou com a educação de nove filhos a cargo, cinco deste último casamento.  

No seu livro, Une si longue lettre, exprime a sua frustração com o destino das mulheres africanas a resignarem-se com a existência de dependência. Em forma de carta, a protagonista, Ramatoulaye, escreve a uma amiga a contar como é ser viúva e ter de partilhar o luto com a mulher mais jovem do marido. É um livro breve e triste, que relata alguns dos costumes desta sociedade, como a poligamia e a desigualdade de direitos. Gostei, é simples de ler, mas triste, por tudo o que implica. Recebeu o prémio Noma em 1980. Morreu no ano seguinte sem ter visto publicado o seu segundo romance, Un chant écarlate, que recebeu o prémio literário da África negra de ADELF em 1982. Morreu aos 52 anos de cancro.

54. Suiça, Annemarie Schwarzenbach, Ver uma mulher

54. Suiça. Annemarie Schwarzenbach, Ver uma mulher - lido em junho de 2023

Nasceu perto de Zurique em 23 de maio de 1908 e morreu em 15 de novembro 15 de 1942 em Segl, também na Suíça.  Filha de uma família abastada, foi jornalista e escritora, estudou em Zurique e na Sorbonne, tendo viajado pelo mundo. Desde cedo optou por se vestir e agir como rapaz, comportamento que não foi desencorajado pela família e que adotou para a vida. Durante a sua vida, teve relacionamentos variados com mulheres, destacando-se a sua ligação com a família Mann e um casamento de conveniência com um diplomata francês. Tornou-se toxicodependente numa tentativa de lutar con
tra o isolamento e a depressão. Documentou a ascensão dos fascismos na Europa. Morreu de uma lesão causada por uma queda de bicicleta. A sua mãe destruiu os seus diários e as suas cartas, privando-nos de mais informações sobre a sua vida. Destacam-se as suas viagens pelo designado Médio Oriente e livros como Morte na Pérsia (Tinta da China) e Todos os caminhos estão abertos (Relógio d'Água) como os mais conhecidos. 

Esta autora era uma das assinaladas para a Suíça, país de onde é difícil encontrar autoras  por cá, e encontrei esta publicação na Feira do Livro de Lisboa de 2023; não hesitei e trouxe-o, até porque era baratinha...

Este livrinho pequenino conta, de forma autobiográfica, a maneira como AS se apaixonou por uma mulher que viu no Grand Palace Hotel. Entre os olhares e a busca, vemos a intensidade do sentimento que se quer concretizar. Como pano de fundo, o ambiente de luxo que a autora conhecia por ser de uma família aristocrata e os elementos que percorrem este espaço, hotel virado para os luxuosos desportos de inverno. Achei interessante, mas nada de especial, pois são apenas fragmentos de uma história. A edição da Relógio D'Água é muito bonita! É uma história de rutura com a sociedade e muito à frente do seu tempo. 


sábado, 23 de outubro de 2021

44. Moçambique, Pauline Chiziane, Balada de amor ao vento



 Moçambique, Pauline Chiziane, Balada de amor ao vento, lido em outubro de 2021

Nem por acaso. Li esta autora no início do mês e ela recebe o Prémio Camões! 

Paulina Chiziane, de 66 anos, foi a primeira moçambicana a publicar um livro, este mesmo que li, em 1990. É um livro aparentemente simples e poético, com uma linguagem algo culta, mas interrompida por vocábulos locais, alguns merecendo uma nota, quanto a mim, para a compreensão da realidade ser meaior. Fala da condição da mulher numa sociedade muito machista.

Esta é a história de amor de Sarnau e Mwando. Sarnau fica deslumbrada pelo aluno dos padres jesuítas, que lhe corresponde e abandona o projeto de ser padre. No entanto, ela foi escolhida para casar com o rei Nguila e é isso que faz, até porque Mwando se afasta e casa também com uma rapariga de pele mais clara e rica. A vida de Sarnau não é tão boa como ela esperava, pois vive em poligamia e tem de partilhar o marido com outras mulheres, algumas nada bem intencionadas. Assim que engravida, é suplantada por Phati. É nessa altura que Sarnau volta a encontrar Mwando e o inevitável acontece...

No início, acompanhamos uma Sarnau adolescente, há conversas com amigas com o tom habitual. Assistimos a práticas da vida em comunidade, com o que têm de bom e mau. A certa altura, Sarnau reflete sobre a grande vantagem da poligamia: não há crianças órfãs nem abandonadas; pode não se sentir segura nem amada, mas os filhos poderão sempre contar com algum amparo. No entanto, na sua vida dura, vai aprender a contar consigo e com os filhos que entretanto terá. Os dois amantes voltarão a estar na mesma fase da vida ou terão perdido a sua oportunidade de vida a dois?
É uma história de uma vida em África ainda durante a colonização, em ambientes rurais, em que vacas são dadas como dote e têm de ser devolvidas caso o casamento se desfaça, uma sociedade de feitiçaria e hábitos ancestrais. Fala-se depois de viver numa cidade e de vender no mercado, da educação das crianças, do peso dos colonos. É interessante e poético, mas um pouco frangmentário, como uma balada cantada. É, como diz o título, uma espécie de canção sobre as voltas do amor. Gostei bastante, não me parece que tivesse lido algo semelhante e certamente lerei mais livros da autora. Podem saber mais sobre ela aqui e aqui.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

41. Japão, Kanae Minato, Confissões

 Japão, Kanae Minato, Confissões, julho de 2021.

Este livro apareceu-me e tive algumas dúvidas sobre inseri-lo nesta lista. No entanto, é atual, é o primeiro livro da escritora que é nossa contemporânea. Kanae Minoto é jornalista e este livro foi adaptado ao cinema. A ideia é que, para além de um thriller, é uma visão um pouco assustadora sobre o sistema educativo e sociedade japonesas.

Moriguchi é uma professora cuja filha de quatro anos morreu, ao que se presume devido a um acidente. No entanto, no último dia de aulas, ela diz à sua turma que sabe que dois alunos que ali estão a mataram. Os alunos, referidos como A e B, não serão acusados por ela devido a uma lei que protege os jovens. No entanto, esta mulher resolve aplicar uma espécie de vingança aos seus alunos... 

A partir daqui, seguimos esta narrativa de primeira pessoa. Primeiro, é Moriguchi a narradora, depois, cada um dos alunos indicados; depois, uma das alunas, também envolvida; por fim, a mãe de um dos culpados. Obviamente não há muitas surpresas desde que sabemos o que aconteceu. No entanto, há uma espécie de dissecação psicológica dos motivos e pulsões de cada um dos jovens e também da mãe, algumas passagens arrepiantes (apenas por serem jovens comuns, com quem nos podíamos cruzar no dia a dia). Cada um fornece a própria perspetiva e os motivos de ter agido daquela forma. No último capítulo, voltamos à narradora Moriguchi. Será que a sua vingança foi bem conseguida? Quais as motivações dos criminosos? 

Encontramos uma sociedade rígida e cheia de regras, pais distantes e mães muito dedicadas que, no entanto, poderão ter de escolher entre a família e a carreira e serão mal vistas (tal como Moriguchi) se tentarem conciliar a maternidade com um horário exigente: o que fazer a uma criança depois do horário da creche? De resto, os adolescentes continuarão a ser rebeldes, a chamar a atenção da família de boas ou más maneiras, a experimentar e a transgredir, independentemente do país. 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

#Leituras do mês - junho de 2021

 Leituras de junho:

Quando estamos em meados de julho e vemos que isto ainda aqui não foi registado, vemos que a importância que dou às listas está subaproveitada... Então, vamos lá:

- Robert Galbraith (AKA J. K. Rowling), Letal White (Cormoran Strike 4), 4*
(gosto deste livros, mas pouco me lembro do anterior quando os leio, o que é um problema; gosto das figuras dos detetives, mas ele não consegue cativar-me por completo, especialmente com as constantes referências à sua deficiência e às suas decisões questionáveis. Já percebemos que é humano, J. K.!);
- Samantha Shannon, Temporada dos ossos, 3*
(ideia interessante, ambiente «giro», mas faltam tantas ancoragens ao real que não se aceita completamente);
- Jenny Colgan, The bookshop on the shore, 4*
(voltamos ao mundo da biblioteca sobre rodas, na Escócia, desta vez com uma mãe solteira e criancinha fofinha, mais um pai sozinho com uma série de filhos mal educados e uma mansão velha com uma biblioteca gigante e mágica.... Percebem a razão de ser desta leitura??) ;
- Elif Shafak, 10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho (DLM Turquia), 5*
(já escrevi sobre ele aqui, é excelente e mágico e tudo o que um livro deve ser. Os «10 minutos» até poderiam ser «cinco horas» e eu lia. Muito bom!);
- Taylor Jenkins Reid, Os sete maridos de Evelyn Hugo, 4*
(gostei, mas a cada casamento havia algo a escapar-me. A demasiada publicidade é mesmo isso: demasiada...);
- Mary Hoffman, A cidade das máscaras e A cidade das estrelas, 4* cada (Série Stravaganza 1 e 2) (viagens no tempo e no espaço, de Inglaterra para uma Itália da Renascença, com jovens e adultos em ambientes históricos e mágicos. Já usei esta palavra aqui muitas vezes, mas aqui é mesmo aplicável. Viajar através destes livros foi bom. Onde poderei encontrar os restantes?);
- Britt Bennett, A outra metade, 4*
(outro cuja publicidade é em excesso. Sim, é bom, é interessante, bem escrito e levanta questões importantes. Remete para uma realidade americana, o que o deixa um pouco lá ao fundo na questão dos direitos humanos e da tolerância. O fim é precipitado e ficam questões por esclarecer);
- C. Pam Zhang, Montanhas douradas, 4*
(aqui está outro que deveria continuar. Universo real, duro, cru, difícil. A imigração chinesa e a realidade de uma primeira e segunda geração de imigrantes que nem sequer sabem a que mundo pertencem. Personagens a que nos apegamos porque são crianças a sobrevier num mundo adulto sem que isso transpareça porque é como se estivéssemos na sua pele com os seus problemas e a perspetiva muda o tom do romance. O tom poético usado ao transmitir realidades tão duras faz dele algo de muito especial. É um primeiro romance e já estou a seguir esta autora no Goodreads e no Insta. Só não lhe dei a outra estrela porque, mais uma vez, a história é aberta...).
9 livros.
Mês de muito trabalho e com menos leituras. A maioria mais leve (como o de Jenny Colgan e os de Mary Hoffman, estes trazidos da biblioteca e que me levaram em viagem para uma Veneza e uma Siena transfiguradas).
O melhor? O de Elif Shafak. Colorido, cru, doce. Para reler.

sábado, 10 de julho de 2021

38. Filipinas, Mia Alvar, In the Country: Stories

 Filipinas, Mia Alvar, In the Country: Stories (contos «Kontrabida» e «The Miracle Worker»), julho de 2021

Este é o primeiro livro de Mia Alvar (nascida em Manila, Filipinas, em 1978) e é uma coletânea de contos sobre a diáspora filipina. Apenas li dois, no Kindle, e apresentam alguns aspetos sobre este país. Tenho ideia de ler os seguintes, pois interessaram-me: têm uma linguagem rica e variada, demonstrando cambiantes de sentido muito expressivos. Além disso, não fiquei totalmente esclarecida sobre as Filipinas. A própria autora viveu no Bahrain e nos EUA, onde estudo. Regressou ao seu país e recolheu informação para este, que foi o seu primeiro livro. 



O primeiro conto, «Kontrabida», refere-se a um emigrante nos EUA, farmacêutico, que regressa ao seu país natal para apoiar a mãe, caracterizada pelas suas infinitas qualidades, nomeadamente a sua paciência e abnegação no tratamento de um marido abusivo com uma doença terminal. Relatam-se alguns aspetos da vida doméstica desta e de outras mulheres semelhantes; o marido que recusou que ela trabalhasse fora de casa, que a agredia e que agora, sofrendo de uma doença terminal, a sobrecarrega com o seu sofrimento. Refere-se o facto de trabalhar em casa, onde tem um pequeno negócio doméstico, um «sari-sari»; como é em casa, já pode trabalhar nele... Fala-se da comida, da vida familiar com uma grande família alargada, e das suas características. O protagonista veio apoiar a sua mãe e trouxe escondidas da alfândega na mala algumas aplicações de morfina para aliviar o sofrimento do pai. Claro que enfrentou um dilema moral, porque os roubou da farmácia hospitalar onde trabalha; no entanto, as considerações sobre custos, seguros e a realidade filipina acabam por pesar. No entanto, numa das manhãs seguintes, ao acordar encontra o pai morto e tudo em andamento para se efetuarem as últimas despedidas da família. O pacote de aplicações de morfina está praticamente vazio... O que terá acontecido??

No conto seguinte, Sally, diminutivo de Salvación, emigrou para o Bahrein para acompanhar o marido que trabalha na indústria petrolífera. Fala-se da grande diáspora filipina e de como de uma vida pobre, quase miserável, passou a ter uma casa grande e luxuosa segundo o ponto de vista anterior. No entanto, Sally tem uma formação no âmbito da Educação Especial e, um dia, surge-lhe uma solicitação para acompanhar e desenvolver uma criança de cinco anos que não fala nem executa movimentos autónomos; no entanto, a mãe considera que Sally pode fazer um milagre com o seu trabalho e atenção, redobrando os seus presentes e pagamentos. Apresenta-se aqui alguma reflexão sobre a formação escolar, que a mãe da criança, sendo abastada, não possuía, por ser natural de um país muçulmano, e da maneira de lidar com a deficiência ali: escondê-la. Estes aspetos são próprios de um país que não era o selecionado, por isso passo à frente. O que se tira de Sally são as mudanças de alguém que, ao receber um pagamento por uma tarefa inglória, tem uma atitude menos abonatória: o marido surge desvalorizado, menos digno de estima por características que antes não a incomodavam e que passam pelo saber estar, o dinheiro colmata o facto de se sentir impotente para trabalhar com aquela menina, mas não querer abdicar do que el lhe proporciona. No entanto, será que um milagre será possível?

Ler mulheres à volta do mundo